O estudo de um fóssil bem preservado de um Australopithecus afarensis
indica que esse ancestral do homem estava bem adaptado a subir em
árvores, mas também caminhava sobre dois pés no chão. O exemplar mais
conhecido da espécie foi descoberto nos anos 70 e foi chamado de Lucy. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira na revista Science.
Por décadas, os pesquisadores têm debatido se Lucy vivia apenas no chão,
como os humanos atuais, ou também passava seu tempo em árvores, como os
ancestrais da espécie. "A questão se o Australopithecus afarensis
era estritamente bípede ou também subia em árvores tem sido
intensamente debatida por mais de 30 anos", diz David Green, professor
da Midwestern University. O maior problema, era a falta de omoplatas
preservadas. Contudo, um espécime encontrado na Etiópia no ano 2000,
chamado de "Selam", tinha esses ossos bem preservados.
O novo estudo é o resultado de anos de pesquisa nas omoplatas de Selam.
"Esses extraordinários fósseis proveem forte evidência de que esses
indivíduos ainda subiam em árvores nesse estágio da evolução humana",
diz Green.
Zeresenay Alemseged, pesquisador da Academia de Ciência da Califórnia, e
o técnico de laboratório queniano Christopher Kiarie passaram 11 anos
cuidadosamente retirando de um bloco de arenito as omoplatas de Selam.
"Como as omoplatas são muito finas, elas raramente fossilizam - quando
fazem, são quase sempre fragmentadas. Então, encontrar duas omoplatas
completamente intactas e presas a um esqueleto de uma espécie essencial
conhecida é como acertar na loteria. Esse estudo nos move um passo mais
próximos de responder a pergunta 'quando nossos ancestrais abandonaram o
hábito de subir em árvores?'", diz Alemseged. "Parece que isso
aconteceu muito depois do que muitos pesquisadores sugeriam
previamente."
Segundo os pesquisadores, Selam era uma fêmea que morreu com três anos
de idade, há 3,3 milhões de anos, e é o espécime mais completo da
espécie já encontrado. Após retirarem os ossos do arenito, os cientistas
digitalizaram o material, os mediram e estudaram seu formato e função,
os comparando com omoplatas de primatas atuais, inclusive do ser humano,
e outros antigos "parentes" conhecidos do homem: Homo ergaster, Homo floresiensis, A. africanus e dois A. afarensis.
.
A análise do formato e função dos ossos indica que eles são parecidos
com certos primatas que vivem nas árvores. "Quando comparamos a escápula
de Selam com os membros adultos de Australopithecus afarensis,
fica claro que o padrão de crescimento era mais consistente com outros
primatas do que com humanos", diz Alemseged. Segundo ele, ao contrário
do homem, mas de forma similar a nossos "primos", essa antiga espécie
tinha poucas mudanças na omoplata quando chegava à idade adulta.
Por outro lado, muitos pesquisadores concordam que muitos traços do osso
do quadril, do membro inferior e do pé dessa espécie são parecidos com
os do homem e adaptados para andar em duas pernas. "Essa nova descoberta
confirma o lugar único que a espécie de Lucy e Selam ocupa na evolução
humana", diz Alemseged. "Enquanto bípede como o ser humano, A. afarensis ainda era capaz de subir em árvores. Embora não totalmente humano, A. afarensis estava nesse caminho."
Fonte: www.terra.com.br